Conferências Rusgueiras suscitam reflexão sobre a vida e a morte em tempo pascal

Monday, April 14, 2025 - 12:18
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Diario do Minho
Conferências Rusgueiras

Entre a Vida e a Morte”- Crença(s), culto(s) e assistência” foi o tema escolhido para a terceira edição das Conferências Rusgueiras - Arco Cultural”, uma iniciativa tripartida entre a Rusga de S. Vicente de Braga - Grupo Etnográfico do Baixo Minho, a Universidade do Minho (UMinho) e Universidade Católica Portuguesa (UCP), que, ontem, se realizou no Palácio do Raio- Centro Interpretativo da Misericórdia de Braga.

O Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, centrou a sua intervenção no tema “A Liturgia das ExéquiasEntre a Vida e a Morte”, fazendo toda uma reflexão acerca do tempo intermédio onde todos nos encontramos, o modo como o vivenciámos e como, ao longo da História da humanidade e da Igreja, o conhecemos.

Salientando que na Igreja Católica existe o cuidado de não falar de “culto dos mortos”, mas sim de “culto dos defuntos”, sendo os Santos recordados não pelo dia do nascimento biológico, mas sim pelo dia da sua morte, D. José Cordeiro apontou o «dia do verdadeiro nascimento como aquele que projeta para a vida eterna».

Inspirando-se numa pintura sobre os farricocos, exposta no Palácio do Raio, o Prelado não deixou de os apontar como «icónicas figuras da Semana Santa de Braga», porém sustentou que nelas se esconde muita da espiritualidade em torno da temática entre a vida e a morte.

Recordando os primeiros tempos da Igreja, quando os penitentes públicos apareciam diante de toda a comunidade, e eram considerados três os pecados públicos, D. José Cordeiro orientou toda uma reflexão acerca do tema e da simbologia das exéquias, considerando, por fim, que «a liturgia cristã das exéquias é uma celebração do Mistério Pascal de Cristo».

«Se a certeza da morte nos entristece, conforta-nos a promessa da imortalidade», afirmou.

O Arcebispo de Braga referiu-se ainda aos grandes sacramentos da vida cristã, o Batismo e a Eucaristia, o primeiro como sendo “a Porta da Fé” e o segundo como “o Pão para o Caminho, a Comunhão”. Contudo, realçou que, com a mudança dos tempos e da ordem dos sacramentos, foi alterada também a compreensão da vida cristã, apontando-se como chave de encerramento” a Extrema Unção”, hoje designada “Santa Unção”.

Abordou, a propósito, a sua recente visita missionária à Guiné Bissau para partilhar a forma como são vivenciados os rituais naquele país e apontou a celebração da Eucaristia, como passando a estar no centro dos funerais católicos e elucidou acerca da reforma litúrgica do rito das Exéquias. 

«Este é um rito que não deve ser entendido como uma purificação do defunto, mas como a última saudação dirigida pela comunidade cristã a um dos seus membros, antes de o corpo ser levado para a sepultura. O rito da encomendação é o adeus», afirmou.

D. José Cordeiro salientou ainda que na celebração das Exéquias se celebra «o culto de Deus, que é o Deus dos vivos» e que o Mistério Pascal de Cristo, restabelece o sentido da comunidade cristã diante da morte.

Terminou, sustentando que «a morte não tem a última palavra. Na vida, esta é a esperança cristã», havendo assim uma abertura para o futuro e para a eternidade.