Especialistas apontam silêncio e estigma social como principais obstáculos à saúde mental

Sexta-feira, Outubro 17, 2025 - 11:40
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Diario do Minho

Durante a tertúlia “Saúde mental sem silêncios: um diálogo de todos e para todos”, que decorreu ontem na Universidade Católica de Braga, os especialistas convidados apontaram o silêncio, o estigma social e a iliteracia como principais obstáculos à saúde mental. No debate, moderado por Sara Barbosa, das Irmãs Hospitaleiras de Braga, participaram Marília Oliveira, assistente social das Irmãs Hospitaleiras, Rui Ferreira, da mesma instituição de Braga, Marina Ribeiro, psicóloga clínica e comunitária da Cruz Vermelha de Braga e Mariana Mangas, psiquiatra das Irmãs Hospitaleiras de Braga. Na sua intervenção, Marília Oliveira falou dos impactos da doença mental, nomeadamente na família, na sociedade na economia, nas empresas, para além do custo humano, com os suicídios. Esta técnica apresentou dados que mostram que, em 2022, o impacto económico foi de 5.3 mil milhões de euros.

O isolamento social e desagregação familiar foram outra consequências apontadas.

Por sua vez, Rui Ferreira pôs ênfase nos estigmas sociais e na dificuldade em pedir ajuda e em assumir que se está com algum problema. Lembrou o mito segundo o qual só os fracos é que têm problemas. O que leva a que as pessoas tenham vergonha de assumir e de pedir ajuda. Uma vergonha que advém também do facto de, posteriormente, as pessoas terem dificuldade em ter nova oportunidade quer no trabalho quer a nível social.

A psiquiatra defendeu a necessidade de as pessoas estarem melhor informadas sobre o tema da saúde mental, precisamente para se saber se é uma reação adaptativa, ou seja, que pode passar com o tempo, quando o problema é um desgosto, luto ou doença; ou se é algo mais profundo. Mariana Mangas recordou que a doença mental é «dinâmica», pelo que só  o conhecimento permite o discernimento.

Parcerias frutíferas em prol da saúde mental em Braga

Em relação às entidades presentes, Joaquim Castro Freitas, da Câmara de Braga elogiou esta parceria frutífera entre as Irmãs Hospitaleiras, a Cruz Vermelha de Braga e a Universidade Católica, em prol da saúde mental dos bracarenses e não só.

Quanto a Júlio Faceira Guedes lembrou a missão e o trabalho diário da Cruz Vermelha de Braga, num dia que é sobretudo para assumir compromissos de ação concreta em prol do bem-estar psicológico das pessoas, considerando que «Braga seria diferente se não tivéssemos as Irmãs Hospitaleiras a intervir».

Júlio Faceira recordou que a Cruz Vermelha intervém  muito no fim de linha, que é uma intervenção cada vez mais desafiante. Este responsável entende que muitas das pessoas que vivem hoje na rua deve-se ao facto de, ao longo da sua vida, terem tido doenças mentais não diagnosticadas e não tratadas.

A propósito do silêncio, Paulo Dias, da Católica de Braga, lembrou que até o Papa Francisco, sobretudo como bispo na Argentina, assumiu que precisou e pediu ajuda psicológica, sendo, também por isso, um modelo para a promoção da saúde mental. O responsável da Católica de Braga deu as boas-vindas e agradeceu a escolha da instituição para a realização do evento.

Por seu turno, Paula Gomes, das Irmãs Hospitaleiras de Braga, falou da importância da parceria. «Sentimos-nos felizes por sermos parceiros nesta caminhada de promoção da saúde mental e do cuidado com o outro. A saúde mental é um bem precioso, muitas vezes negligenciado, muitas vezes com estigmas. Mas é fundamental o autocuidado, cuidarmos de quem está ao nosso lado, cuidar do outro. Não é apenas uma prática desejável, é um ato de responsabilidade coletiva», disse, renovando o compromisso de continuar a cuidar dos doentes mentais em Braga.