Projecto Homem pede «resposta estatal» que trave subida das novas dependências

Sexta-feira, Outubro 10, 2025 - 15:53
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Diario do Minho
EWODOR CONFERENCE DM

É com preocupação que o Centro de Solidariedade de Braga/Projecto Homem vê a subida das novas dependências ligadas à tecnologia, ao uso excessivo de ecrãs, jogos ou videojogos. E a apreensão aumenta quando o Estado «tarda imenso em sistematizar uma resposta para isto», alertou Guilherme Meneses, presidente do Projecto Homem, ontem, à margem do simpósio EWODOR (European Working Group On Drug-Oriented Recovery Research), que junta até hoje, na Universidade Católica de Braga, especialistas, investigadores e técnicos em torno do tema das adições, saúde mental e recuperação.

Segundo o responsável, «as dependências estão sempre em evolução», pelo que é necessário «saber enfrentar as novas problemáticas de consumo, os novos perfis de consumidores». Daí a importância de eventos como este, sobretudo numa altura em que, «talvez por alguma deficiência de política pública, tem-se assistido a um recrudescimento dos consumos», sobretudo os «novos consumos», para os quais «não há ainda uma resposta pública propriamente específica.» 

Guilherme Meneses alerta que este problema tem-se vindo a «agravar cada vez mais» e que o Estado «está a tardar imenso em sistematizar uma resposta, em apoiar, finaniar, enquadrar em política pública devidamente estruturada». «Isto está-nos a atrasar imenso a todos. Os consumos estão a recrudescer. Nós voltamos a ver na cidade de Braga consumos como já não tínhamos há alguns anos, mesmo de toxicodependência, e por isso estamos um bocadinho perplexos, porque parece--nos que esta área das dependências ficou um bocadinho para trás. Estamos a dar alguma atenção – e bem – aos problemas de saúde mental, mas esta é uma parte pobre dessa área, e estamos a demorar algum tempo a acordar para esta realidade, que nos pode obrigar a ter que enfrentar problemas como já tivemos no final dos anos 80 e princípios dos anos 90, onde estes consumos estavam completamente desregulados», afirmou, considerando que, «se nada for feito, depressa voltaremos a estar como estivemos no passado».

Sobre a forma como no Projecto Homem tem vindo a ser tratar a questão das novas dependências, o presidente explicou que estão a decorrer «alguns atendimentos em consulta externa para as questões de jogo, por exemplo», que resultam de «colaborações que vamos fazendo a nível europeu». «Já estávamos preparados, já antecipámos este problema e já tínhamos as equipas prontas para responder», sustentou.

Dependências devem ser tratadas em conjunto com a saúde mental - Alerta do Pró-Reitor da UCP

«O problema das dependências nunca será resolvido, mas se não reunirmos especialistas com os agentes de autoridade e políticos, o problema não se resolverá por si. Pelo contrário, tenderá a manter-se e a aumentar», alertou o pró-reitor da UCP/Braga, Paulo Dias. Foi com este objetivo que a UCP e o Projecto Homem organizaram este simpósio. Quer-se, ainda, «colocar as dependências dentro das questões da saúde mental. «Não podemos pensar nas dependências fora de outros problemas da saúde mental. Convém que se coloque em agenda este tema porque, com a alteração do modelo português de drogas, as dependências deixaram de ser um problema judicial para ser um problema de saúde, mas para quem está no terreno passou a ser também um tema menor, com menos apoio, menos financiamento e menos atenção social», lamentou.