“As desigualdades aprofundam-se, os nacionalismos crescem, as guerras grassam. Esboroa-se a confiança na relação entre estados, instituições, pessoas” começou por expor Isabel Capeloa Gil, Reitora da UCP, na Grande Conferência de encerramento das celebrações dos 55 anos da Universidade Católica. Para D. José Tolentino Mendonça, “em etapas históricas assim desafiadoras, somos chamados a ativar ou a redescobrir os recursos espirituais e humanos”.
Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, que tutela as universidades católicas, o Cardeal, que já foi vice-reitor, professor e estudante da UCP, regressou à universidade para falar precisamente sobre os recursos espirituais para enfrentar o futuro. Focou-se em cinco recursos “elementares e universais”: a pessoa humana, o espanto, a relação, aceitar o risco, e a esperança.
O teólogo defendeu a importância de investir “na capacitação de cada pessoa para que possa desenvolver as suas potencialidades e contribuir desse modo qualificado para o bem comum”. Uma missão central das universidades que, segundo D. Tolentino Mendonça, devem aspirar “à universalidade do saber”, colocando em prática “o diálogo interdisciplinar”.
“Precisamos da ousadia de realizar alianças entre saberes, mesmo entre saberes que parecem distantes”, afirmou. “Precisamos de uma educação para a esperança. Não podemos permitir a disseminação da retórica da indiferença, da desistência e do medo, nem deixar que o universal direito à esperança seja atropelado pelo rolo compressor do niilismo. A esperança é a nossa missão”, acrescentou.
O Cardeal acredita que “uma universidade é o lugar ideal para pôr em prática a cultura do encontro”. O compromisso das universidades “deverá ser com um futuro que pratique um diálogo transversal de saberes, porque os desafios que aí vêm são cada vez mais transversais”. D. Tolentino Mendonça defende que, assim, será possível “aproximar as pessoas e encontrar novas formas de cooperação diante dos desafios trazidos pelo ambiente, pela tecnologia, pela sustentabilidade ética, pelas novas formas de inteligência, por uma distribuição mais justa dos recursos e pelas perguntas eternas sobre a vida e o seu sentido”.
Para Isabel Capeloa Gil, “repensar o mundo a partir de uma lógica de fraternidade social, conforme o apelo do Papa Francisco, é essencial para que tenhamos um futuro”. Um futuro que a Reitora da UCP vê “com confiança”, pois “uma universidade católica move-se no terreno do risco e da esperança, onde o conhecimento se constrói numa ótica de serviço e não de domínio ou poder, transformando as antigas ilhas disciplinares em grandes continentes”.
Já D. Manuel Clemente, Magno Chanceler da UCP, e Cardeal-Patriarca de Lisboa, referiu que "quando as universidades foram criadas, foi com a intenção de encontrar pessoas com saberes e a vontade de os ter", realçando a importância de existir disponibilidade "para aprender, sempre".
Sobre os 55 anos da Universidade Católica Portuguesa, o Cardeal destacou ainda como a UCP tem procurado “ultrapassar a lógica dos muros, num esforço para ser – como ainda recentemente lhe pediu o Papa Francisco – uma universidade socialmente inclusiva e com um compromisso explícito de serviço às grandes causas humanas”.