Católica quer formar psicólogos que saibam programar e gestores que saibam de Arte

Terça-feira, Fevereiro 11, 2025 - 17:56

A reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, foi a convidada do segundo episódio do podcast Luso Lab, promovido pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, para dar a conhecer o sucesso do talento luso além-fronteiras e mostrar o que Portugal faz de melhor.

Numa conversa conduzida por André Patrão, docente na Universidade de Emory, nos EUA, Isabel Capeloa Gil começou por partilhar um pouco da sua vida e carreira internacional, desde que, aos sete anos, foi viver para Macau, até às experiências – e algumas peripécias – relacionadas com o estudo e a investigação em Stanford, Chicago e Munique.

Estas vivências multiculturais, e a consequente necessidade de adaptação, moldaram a sua forma de liderar e a visão que tem da universidade e do ensino. “Era um descodificar da diferença do outro que acho que é muito importante como experiência de vida”, explica, assumindo a sua “paixão” por conhecer culturas distintas.

“É extraordinário termos consciência do pouco que sabemos e do pouco que vamos sabendo, porque a investigação e a Academia são uma prática de humildade e não de arrogância”, acredita.

Aludindo depois às características do modelo de ensino norte-americano, onde existe uma “confiança perante o risco”, a reitora vinca a importância de falhar. “Sem falhar não se consegue atingir a excelência. A excelência é ser continuamente e brutalmente desafiado, contestado e superar”, frisa.

transversalidade do ensino e do conhecimento é outro dos elementos que destaca na conversa, lembrando que quando um jovem entra numa universidade “não se trata apenas de orientar para uma profissão, mas formar enquanto cidadão”.

É essencial “entender a diversidade rica do universo em que vivemos e não formar idiotas especializados”. E é essa, assegura, a visão que tem tentado reforçar na Católica. É por isso que, por exemplo, a programação está a ser introduzida em todas as áreas de formação.

“É importante para o mundo em que estamos que um jovem licenciado em Psicologia consiga programar, que um teólogo consiga programar e que alguém que se licencie em Literatura também o possa fazer”, explica Isabel Capeloa Gil. “Por outro lado, também queremos gestores que conheçam a História da Arte, que saibam ler Shakespeare e que percebam o que é a estética de Frank Lloyd Wright”, acrescenta.

Questionada sobre a capacidade de Portugal atrair e fazer regressar os académicos portugueses que estão fora, a também Presidente da Federação Internacional das Universidades Católicas, salienta a relevância da mobilidade e o papel que as universidades devem assumir“É um discurso muitíssimo redutor olhar para o ensino superior como uma coisa para formar gente cá dentro, para ficar cá dentro”, defende Isabel Capeloa Gil.

“Temos de dar capacidade interna para que este talento possa liderar, possa cocriar, possa ajudar a transformar as instituições”, que “têm de ter capacidade de autocrítica”. “Isso é particularmente importante e uma das coisas que estamos a fazer na Católica”, continua. Para a líder, “uma instituição que não tenha a capacidade de integrar a disrupção, sobretudo uma universidade, não tem capacidade de se desenvolver”.

E exemplifica com o Católica Biomedical Research Center “que atraiu um conjunto alargado de jovens investigadores, professores que estavam fora, na Cambridge, nos Estados Unidos, em Portugal, noutras instituições de investigação”.

Por isso, a Católica quer “ter capacidade de acolher”. “Portugal precisa, mas também precisa que as pessoas saiam de Portugal, que estejam fora, que voltem, que criem aqui, que voltem a sair, que voltem a voltar, porque o mundo é global e precisamos justamente deste sentido de viagem, que é muito português”, conclui.

No primeiro episódio do Luso Lab foi entrevistado José Manuel Durão Barroso, docente do Instituto de Estudos Políticos da Católica.

Startups, sustentabilidade, saúde, inovação, geopolítica, educação serão alguns dos tópicos a abordar nas futuras entrevistas deste podcast, permitindo uma conexão intergeracional entre os mais experientes e as novas gerações.

Integrada no Conselho da Diáspora Portuguesa, a Diáspora Jovem foi criada em 2024, em resposta ao desafio lançado pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para reforçar a ligação entre o talento jovem e o Conselho.