Introdução
As relações económicas constituem uma parte fundamental da nossa vida em sociedade, a qual é estudada pela Economia. Esta foi a primeira ciência social que surgiu na modernidade, e as suas origens (como disciplina autónoma) remontam à obra do filósofo moral escocês Adam Smith (séc. XVIII). A Economia estuda as decisões dos agentes económicos (consumidores, vendedores, Estado) e a evolução de indicadores agregados (e.g. PIB, inflação, desemprego).
Como sabemos, a Economia é a principal ciência que influencia as políticas dos Governos ocidentais. Por isso, a Economia é uma ciência com forte impacto na qualidade de vida das pessoas. A relevância pública da Economia é confirmada pelo facto de esta ser a única ciência social na lista dos prémios Nobel.
Apesar da importância da Economia, esta ciência é frequentemente criticada por não se preocupar com questões éticas, chegando por vezes a recomendar linhas de acção que chocam com princípios morais. Até que ponto tais críticas são plausíveis? Este curso discute de que modo é possível estabelecer um diálogo entre a Economia e a Ética—não só na vertente teórica (académica), mas também na vertente prática relativa à vida das empresas.
Descrição do curso
I) Objectivos do curso:
- Rever e aprofundar alguns fundamentos teóricos do currículo normal das licenciaturas em Economia e Gestão, e estimular a reflexão crítica sobre estes. Alguns temas a rever: teoria neoclássica; teoria da escolha racional (rational choice theory).
- Abordar temas de Ética que não costumam ser tratados nas licenciaturas e mestrados actuais de Economia e Gestão.
- Sensibilizar para a necessidade de articular o diálogo entre a Ética e a Economia, e de recuperar a visão da ‘Economia Política’ presente na obra fundacional de Adam Smith.
- Explorar as inovações recentes da Economia Comportamental (‘behavioural economics’), e o diálogo da Economia com a Psicologia, focando a atenção nas dinâmicas de cooperação em vários jogos (‘games’).
II) Algumas questões a tratar no curso:
- Que concepção de ser humano está implícita na Economia ‘mainstream’ (teoria neoclássica)?
- Será que o homo economicus é uma hipótese plausível sobre o comportamento económico?
- Quais as diversas motivações/ intenções dos agentes económicos?
- Há lugar para a virtude, o altruísmo, a reciprocidade, e o ideal da comunhão nos mercados impessoais?
- Será que estudar Economia afecta o carácter moral das pessoas, tornando-as mais egoístas e menos cooperativas?
- É verdade que o único objectivo das empresas é aumentar os seus lucros (como defendeu Milton Friedman)?
- Será que a Economia deve preocupar-se com questões de justiça social e de ecologia?
- O Estado deve intervir nos mercados?
III) Aptidões a desenvolver ao longo do curso:
Reflexão crítica sobre os pressupostos antropológicos e éticos da Economia, e a respectiva aplicação à vida das empresas e organizações.
Metodologia
- Exposição sistemática dos conteúdos.
- Análise e discussão de alguns textos clássicos, de modo a fomentar a participação activa e o espírito crítico dos formandos.
Destinatários
- Professores de Economia do ensino secundário, que desejam rever e complementar a sua formação da licenciatura/ mestrado;
- Professores de Filosofia, Educação Moral, Psicologia, Geografia, Biologia;
- Empresários, economistas, gestores, engenheiros;
- Profissionais da banca e seguradoras;
- Jornalistas da área económica e financeira;
O curso destina-se em geral a todos os interessados em debates nas ciências sociais, e no modo como as posturas teóricas influenciam a praxis da nossa vida em sociedade.
Bibliografia
- Fabre, Raúl González (2005), Ética y Economía: una Ética para Economistas y entendidos en Economía, Desclée De Brouwer, Bilbao.
- Friedman, Milton (1970), “The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits”, The New York Times Sunday Magazine (September 13, 1970).
- Sen, Amartya (1987), On Ethics and Economics, Blackwell. [trad: Sen, Amartya (2012), Sobre Ética e Economia, Almedina]